Eis-me aqui sozinho em cada canto
Tão pesado quanto um sopro de vida
Nem mesmo a face do maior desencanto
Choravas tanto por sua breve despedida
A minutos atrás poderíamos ter sido
Tudo o que de mais lindo há além da ferida
Algo que não morresse como o amor quando não dito
E que vivesse como a flor no seu cabelo escondida
Seriam teus olhos meu prazer inenarrável
Se encontrasse-os abertos frente ao meu rosto
Seria a cura do que até então era incurável
Abraçar a essência da morte que te trás gosto
Gosto de derrota vivida a cada dia a esmo
Ao contrário de ti Vitória,que não passa
Perdi-me de mim,na solidão de mim mesmo
Dos céus espero que encontre o caminho de casa
É de se lembrar com saudade a doce infância
Sorrias fácil pra quem a olha-se com carinho
Enchia-me o peito de uma enorme esperança
Vê-la feliz era acreditar não estar sozinho
Há dias que somos apenas cansaço
Não saberia lhe dizer o exato momento
Entre o seu fugir dos meus braços
E seu encontrar com o isolamento
Presenciei o seu tentar triste e rouco
Como quem já houvesse gritado
Desesperado feito um louco
Implorando um pouco de amor
Talvez viver seja mesmo
Aceitar morrer aos poucos
De mãos dadas com a dor
Aquela menina de olhar mendigo
Foi internada em uma clínica
Dizem que por falta de um amigo
E pela tristeza que debochava cínica
Procurava na solidão sentir algo a mais
Enquanto chorava por ter sido internada pelos próprios pais
Se for pra morrer que não seja por nada
Quem disse que a entende nunca quis saber
Ás pressas longe de mim foste levada
Viver de amor é aceitar-se adoecer
Dizem que ela esta trancada no banheiro
Desenhando corações com seu pequeno canivete
São tantos cortes que já nem se sabe qual foi o primeiro
Seus tornozelos sangram e sua tristeza não se mede
"E a dor é menor do que parece
Quando ela se corta ela se esquece"
As noites já não trazem mais mudança
E sua imagem está diferente no espelho
Crescer é doer não ser criança
Vitória pintou seu quarto de vermelho
Conversas escondidas procuram um jeito
De dizer o que a coragem não nos permite falar
Desde ontem seus calmantes não fazem mais efeito
Todo anseio vem do medo de não se conseguir se curar
E a pior parte de estar doente
É ser tratada como tal
Sozinha ela se tranca e mente
Cortar-se não é idiotice.
Idiotice é deixar alguém tão mal
A ponto de faze-lá sangrar.
A cada verso uma velha recordação
A cada silêncio surge o nome de alguém
Quantas lembranças silenciam o coração
Solidão é estar rodeado de ninguém
Doce lâmina que me corta
Ela diz que me conforta
Afunda em minha pele
E com muito prazer
Ela me fere
Se alimenta do meu sangue
e sorri com a minha dor
Ela jura que assim
Apagará o meu rancor
Doce lâmina, eu te amo
Doce lâmina, eu te chamo
Corte o meu pulso
Apenas por impulso
Aprecie o meu sangue
E prometa me levar embora
Não preciso de você
Não mais agora
Adormeci durante esse dia
Mergulhado em teu sangue quente
Sem ajuda eu jamais saberia
O que tanto a deixava doente
Era medo da vontade proibida
Revelada minutos antes do final
Você fechou os olhos enquanto dizia
O que tem demais em ser homossexual ?
E aquela lágrima que as vezes escorre
É só remorso por não ter agido diferente
Chorar não alivia a dor que nunca morre
Lembro-te menina sorrindo aqui com a gente
Me perco nos teus olhos diante dos meus
Lembrança está que alivia e faz sangrar
Algo dentro de mim a ti lhe pertenceu
Talvez falte coragem pra que eu venha me cortar
Você se foi mas algo de você permaneceu
Dentro de mim mal se sabe o que ainda é você ou eu
Mas o mais triste foi deixar
Que algo passasse despercebido
E que toda aquela vontade de ter vivido
Se esvaecesse junto com seu olhar
E quando volto pra casa encontro sua história
Marcada de vermelho no espelho e em cada canto
Seu nome era Vitória
O meu nem tanto
Dotti Gioia Busch Jr
Gisele Leite
Inspirada na música "Clarisse - Legião Urbana"
Nossa! Lindo e intenso!
ResponderExcluirO espelho marcado de vermelho, o seu nome que nem tanto: belos versos. Abraços e sucesso com o blog!
ResponderExcluirMuiito bom mesmo .
ResponderExcluirBem ... Intenso !
seguir em frente sempre, só isso que importa.
ResponderExcluirParabens Cicero, excelente texto, excelente blog. Sucesso.
ResponderExcluirMuito lindo esse poema. De uma riqueza literária expressiva e intensa. O final foi perfeito.
ResponderExcluirhttp://mmelofazminhacabeca.blogspot.com.br/2013/07/um-pouco-de-mafalda.html